domingo, 28 de dezembro de 2014

O Rio




O Rio

É mais um dia
Entre o céu e as águas
O rio livre, sem amarras
Disperso pelo caminho
Por inúmeras estradas

É a entrega de mais uma ida
Da improvável lida  
De histórias contar
Revestidas de saudade
De verdade sussurrada
Sem vergonha e sem vontade
Coisa que só a palavra
Se encoraja a mostrar
Tipo desenho
No papel a rabiscar

Corre rio, corre ligeiro
Chega lá, bem pertinho
Gemido leve, de mansinho
De um destino incerto e passageiro

Vai coração intenso
Quase calado
Desejoso, tenso
Na busca de um olhar a trocar
Em mais um dia
Apenas mais um
E o rio
Não se cansa
De modo algum
Sempre disposto
A me levar.

Luciano de Abreu


sábado, 25 de janeiro de 2014

Entrelinhas


 
 
Entrelinhas

Quando penso na palavra

Vejo a trajetória do pensamento

O caminho a percorrer pela mente

Na arte solitária de rascunhar

O que guarda o sentimento

 

Como descrever um coração?

Na incerteza

No fio da navalha

Cara a cara com a pessoa amada

O duelo passional

Entre a emoção e a razão

 

Nas poucas linhas escritas

Adormecem perdidas centenas de outras

Recusadas, disfarçadas

Escondidas

Porque o verso, assim como o amor

Está nas entrelinhas

Naquilo que suavemente se perde

Em tudo o que não se diz

No silêncio inquieto

Aparentemente inerte

De quem ainda teme ser feliz

L.A.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Sentir



 
Sentir

Ainda sinto...

A boca molhada

A respiração ofegante

Na pele...

Um toque cortante

Entre os lençóis e a cama desarrumada

Ainda sinto...

O corpo aquecido, o calor

Sedento...

Com fome, ardor

Entregue, vencido

Perdido

Em pleno furor

Ainda sinto...

O perfume

Impregnado na pele

Tatuado no ar

Impresso...

No teu jeito de amar

Que só de pensar

Me faz perder

Me faz querer

Me faz queimar

Ainda sinto...

Saudade

Do teu corpo junto ao meu

Daquele pedaço de mundo

Só meu e seu

Aquele poço sem medida

Sem fundo

Onde acaba o sonho

E começa a vida

Ainda sinto...

E por sentir

Não posso evitar

Não posso mentir

Existe em mim

Algo só teu

Um grande vazio, um breu

A espera de um “sim”

Uma cama quente

Um sinal aberto

Um lugar pra gente

Apesar de incerto

Possível...

Especial...

Invisível...

Essencial...

Ainda sinto...

E repito

De sentir...jamais desisto

L.A.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Gente



Tem Gente
 
Tem gente que toca
E tem gente que toca a gente
Tem gente que é instrumento
De gente que gosta de falar, de viver
Em pleno sentimento 
 
Tem gente que a gente imagina
E tem gente que faz a gente imaginar
Tem gente que ilumina
E tem gente que faz a gente brilhar
 
Tem gente que faz da gente algo mais do que gente
Algo especialmente decente, envolvente...
Sem precedente

Tem gente assim
Que recebe semente
E constrói um jardim
 
Tem gente vivente...
Sobrevivente
Não desistente
De coragem persistente
De gente que percorre a vida
Sempre, inevitavelmente
Olhando pra frente

L.A.

Prefiro




Prefiro (Odeio)
 
Odeio a ideia a força, a escrita a pulso
Prefiro a palavra livre, o verso no impulso
Odeio o olhar superior, o riso forçado
Prefiro a gargalhada rompante, o abraço apertado
 
Odeio a superioridade cínica travestida de arrogância
Prefiro o silêncio espontâneo, a brincadeira de criança
Odeio limites impostos de gente que se diz alguém
Prefiro barreiras suspensas por aqueles que vão...e vão muito mais além
 
Odeio a conversa disfarçada pelas costas
Prefiro amizades sinceras, nunca impostas
Odeio a opressão vestida de paixão
Prefiro a dose incerta entre o amor e a razão
 
Odeio acima de tudo, a lista imensa de coisas a odiar
Prefiro insistir no bem...o resto... deixo pra lá

L.A.

24 horas




24 horas  

Tenho apenas estas 24 horas, chance de um dia  
Uma única medida (passagem só de ida)
Peso de dor, paixão e alegria
Reservado e aguardado por toda a vida
 
Tenho o dourado da manhã
Revelado no emaranhado dos teus cabelos
No gosto doce e suculento de maçã (minha fruta da manhã)
Do beijo suave que envolve e arrepia medos e apelos
 
Tenho um entardecer a colorir
E não me escapa (nem desisto) do desejo de ti
Desta vontade egoísta e irresistível de não dividir
 
Tenho uma noite entre nós e o fim (choro de acabar assim)
Neste universo imenso de um dia 
Uma lembrança eterna é tudo que peço, algo só meu e teu (guardado pra mim)

L.A.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ausência






Ausência

 

Você partiu...

Brevemente...

Se foi...

Imensamente...

Deixou...

Em mim um vazio

Pudera eu ter evitado

A partida assim...

De imediato...

Sem antes guardar de ti

Um presente teu

Pra chamar de meu...

Um pedaço seu...

Pra minha companhia

E assim saciar a minha alegria

Noite e dia

Pra lembrar de tudo que sou

Na tua presença...

E do nada que resta...

Na tua ausência

 

L.A.